segunda-feira, 27 de junho de 2016

Brincando com o fogo

O fogo sagrado pulsa no centro da floresta,
Quente e forte, crepita como um vulcão.
Irrompes por entre árvores e aterras na clareira,
Sacudindo das asas as frieiras do Inverno passado.

Aqueces agora as mãos,
Porque a sede é grande e a caminhada dura.
É de calor que agora necessitas,
para refrescar o teu espírito.

Assim são feitas as relações,
De pequenos pedaços de loucura.
De queimaduras e de uniões de alma.
De cicatrizes que saram as dores que viemos curar.

Integrar,
Não deixar arrefecer,
Saber guardar o calor no peito,
E caminhar até ao próximo reencontro.


terça-feira, 24 de maio de 2016

Homem-Lanterna


Seres Humanos nascidos bombeiros, com a missão de apagar a escuridão.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Bipolaridade

Só com muito altruísmo, ou então com muito egoísmo, 
se consegue aceitar que algo, embora não sendo igual, possa à mesma ser justo.


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Escrever torto por linhas direitas

As melhores coisas da vida acontecem quase sempre sem serem devidamente planeadas.

Não estou a fazer a apologia do não planeamento - Estou a reconhecer que por vezes tenho a sensação que um Plano Maior existe, onde aparentemente não tenho influência.

O Plano-Mestre a desvendar apenas na última casa.
Na altura de dizer: “Claro, afinal era simples!”

Sei que não tenho idade para dar lições.
Só sei que a pouca experiência que me foi dada até agora ensinou-me a Confiar e a saber que perseguindo o que é certo, vou invariavelmente parar ao trilho mais apropriado.


terça-feira, 1 de março de 2016

Vôo largo

Existirão os que não te irão entender,
os que não quererão entender,
e os que não poderão entender.

Mas nunca serão estes,
os que te vão prender.

As asas só merecem ser fechadas se for no vôo de um abraço.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Cruise control

12 anos - Corrida de atletismo:
Tudo ia muito bem até chegarmos à malfadada encosta. 
Todos a receavam.Todos a temiam.

Sem saber como nem porquê, disparo em frente, destacando-me do pelotão.

Na verdade, não tinha acelerado. Mas também não tinha desacelerado. 
Estava distraído nos meus pensamentos e sem me aperceber, mantive o ritmo constante.

Mas os outros, não. A ideia da rampa inclinada já tinha criado neles uma dor onde não existia.
Fruto das expectativas criadas sobre a tal encosta, o pelotão tinha abrandado, entregando-me desta forma a vitória de bandeja.

Para vencer por vezes não é necessário muito - basta ser consistente.
Acertar o Cruise Control e assumir-se azeite no copo de água.


A natureza das coisas

Ao lobo não compete a pele de cordeiro.
De que vale um leão domado,
com uma boca cheia de dentes.

Ao Homem cabe procurar pela sua Natureza e a ela ser fiel.

Os Bons muros não são para derrubar nem para contornar.
São sempre para desfazer.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crónica de um reencontro por acontecer

Piadas soltas, comentários inócuos
Futebolices e politiquices.
Almoços cheios de nada,

No teu rosto descobri um pequeno tom de amarelo, fugidio, furtivo.
A educação que te foi dada para criar estrutura, é a mesma que agora abafa o grito que vive debaixo dessa máscara.
Inadvertidamente deixaste escapar dos teus olhos um pequenino pedaço da solidão,
Uma lágrima do desencontro que existe entre ti e a tua essência,

Não tem que ser assim.
Nao deve ser assim.

Gostava de saber em que dia te disseram que não eras mais criança.
Que tinhas que seguir o trilho normal.

Gostava de poder voltar a esse instante e retirar-te essa nuvem do caminho.
E todas as outras que se acumulam à tua volta na tentativa frustada de apagar o Sol brilhante que emana na tua alma.
 
O tempo é demasiado precioso para ser perdido desta forma.
E sei que o dia chegará em que isto acabará.

Nos mesmos olhos inundados de solidão vive a faísca da juventude adormecida.
A juventude que não se cinge pelas leis do tempo.
Aquela que na primeira oportunidade florescerá em todo o seu esplendor, de acordo com a natureza que lhe é inata.

Poderá ser hoje ou poderá ser momentos antes de abandonares este corpo, 
mas nunca será em vão.
Porque o tempo é apenas uma construção humana, e o teu Sol não nasceu neste Mundo.

diz o poeta,
A vida é um momento.
Esse momento será sempre breve.



Escuta ativa

"Porque é que os cães percebem o que dizemos e nós não entendemos nada do que eles dizem?" perguntou-me a pequenina.

Fiquei a pensar..

Porque sempre que impomos a nossa razão, 
perdemos o sentido da audição.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Nostalgia do tempo presente

Olho para o teu sorriso de criança e sinto em mim a “Nostalgia do Agora”.
A Saudade que será vivida no Futuro, mas que por ser tão Grande, consegue já ser sentida Agora, enquanto ainda somos Presente.

É como se de repente um outro Eu nascesse em mim, por detrás do meu próprio olhar.
E em paralelo, à medida que brinco contigo, ele contempla, com a nostalgia de recordar no futuro, este preciso instante.
Um outro Eu, que quer lembrar-se de todos os detalhes e que por isso inunda o meu pensamento atual e distrai, enquanto eu olho para ti.

É duro saber que recordar nunca será viver.
E por ter plena consciência desta tamanha injustiça, caio na tentação de deixar crescer em mim a ânsia tremenda de, por um lado, querer aproveitar cada momento e por outro, querer fotografar cada olhar, cada sorriso, para guardá-los bem fundo no meu coração.

Mas a frustração é grande.

Sei que Depois nunca será o Agora.
Sei que, ou sou fotógrafo, ou faço parte da fotografia.
Sei que quando quiser relembrar, restarão apenas alguns pedaços soltos.

Por isso,
Curvo-me perante a crueldade do Tempo que esmaga ao ensinar que já não posso ter depois, o que é para ter Agora.
O Tempo, esse professor impiedoso, ensina-me que tudo existe uma única vez e é por isso que é tudo tão precioso.

Cabe-me, como bom aluno,  tentar aproveitar,
para não vir a sofrer de Alzheirmer,
sem de Alzheirmer padecer..

..Inspirado no livro “Thinking Fast and Slow” de Daniel Kahneman, onde aborda os dois Eus: o “Experiencing self” e o “Remembering self”.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Vontade

Não basta pedir ajuda.
É preciso querer.


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Conexão

Tal como quando observo um estereograma,

É assim que me sinto quando estás por perto.


Quase que vejo, mas não vejo.

Quase que estou, mas não estou.


Uma sensação de trapezista sobre corda bamba.


Num ligar quase desligado.

Num desligado, afinal vivo.


Corro para apagar o som e baixar as luzes.

Porque é isto que eu tenho que estudar.


Vou aprendendo aos poucos a ignorar interferências 

e a tomar atenção aos pequenos sinais subtis que me deixas no canto do olho.


De tempos a tempos, lá estás tu.

Como que a desafiar.

Como que a arrepiar.

Tu que afinal sou Eu, do outro lado.

Do suposto inconsciente.


Posso ignorar ou posso ouvir.

Se ignorar, vou arrepender-me de nunca ter ouvido.

Se ouvir, vou arrepender não ter ignorado.


Não são vozes do além.

São vozes de dentro, da intuição.


Do que sabemos, sem saber saber.

São as palavras que trazem-nos conforto e alegria.

e que preenchem a nossa alma com a luz do Sol que ilumina a nossa Montanha.



quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Guardanapos usados

Tal como é costume sempre que se encontra alguém de outra nacionalidade, a conversa foi parar às palavras e às formas como as coisas se dizem.


Descobri uma em particular, que dita em Brasileiro é muito má, e que em Portugal não significa rigorosamente nada.

A questão já se me tinha levantado anteriormente quando vim a saber que entre países escandinavos existem palavras que embora sendo iguais, significam coisas completamente distintas, e por isso é preciso ter muito cuidado.


Neste caso particular, a minha atenção prendeu-se com o facto de haver um som, um conjunto de vocalizações ou sopros, letras ou sílabas que a mim não dizem rigorosamente nada e a outra pessoa dizem muita coisa – neste caso, coisas más.


Senti-me como uma criança que descobre a sua primeira asneira.


A sua primeira pedra para arremessar. 

Para fazer doer,

sem ter que bater.


Num primeiro instante a reação é a de incompreensão e estranheza.

Mas a verdade é que nessa palavra estão carregados sentimentos e experiências, impressos por toda uma cultura, por toda uma multidão que nela canalizaram a sua vivência.

Um verdadeiro balde de lixo para onde se deitam os restos.


Sou da opinião que nunca se deve atirar lixo às pessoas.

Canas de pesca talvez, mas nunca lixo.


Há sempre aqueles que dizem que ao utilizá-las não é verdade lixo, mas sim algo reciclado, diferente.

Que não é por mal, 

E que afinal é só uma forma de dizer.


Não deixa de ser lixo e sendo lixo, cheira sempre mal.


Limpar a boca a um guardanapo usado saberá sempre a isso,

A Guardanapo usado.

A amargo de boca.


Lava os dentes e verás como não necessitas de guardanapos usados.

O cheiro da pasta dos dentes faz-se sempre respeitar.






Acende a fogueira

Olha para dentro.

Encontra o veio principal.

A raíz, a coluna vertebral.


Respira.


Como um fervilhar crescente,

O arrepio percorre-te o corpo.


Tal como a música que mexe contigo, sentes-te pronto a correr.

É o fervor a subir de tom.

A adrenalina de um novo começo, uma nova esperança.


Tu sabes,

Como ativar.

Como catapultar o ânimo,

Como motivar.

Arrancar.


É a altura de sair das boxes e disparar, de volta à estrada.

F1 a derrapar no arranque,

1ª, 2ª, 3ª, 4ª a fundo.


A rasgar alcatrão.


Tudo passa a relativo,

Tudo o que importa é o que está ali mesmo à tua frente.


Ao teu alcance.



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Testes

Grande parte do sucesso em ultrapassar um desafio é saber que ele existe.

De olhar brincalhão,  ele pergunta-te por entre o nevoeiro:

Então? Como é que vai ser desta vez?


Olhos e ouvidos bem atentos para ver com clareza,

respiração forte pra afastar as nuvens,

e raízes profundas para proteger dos ventos fortes.


Consciente do que defrontas,

És agora capaz de concentrar as forças naquilo que quiseres ultrapassar e acima de tudo de definir a forma como queres deixar esse desafio para trás das costas.



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Transparências

De que vale estar inconscientemente acompanhado?
O que se atinge com relações fugazes (ou permanentes), plenas de um cinzento de conteúdos?

Pedaços de vidas desperdiçadas por quem insiste desapegar-se de etapas, de missões ou objetivos - imersas num eterno adormecer vegetativo. 
Por inércia, por medo ou por incapacidade de dizer que não.

O cultivo do retiro ajuda-nos a compreender a importância da compaixão e do amor fraterno.
Ao invés de apresentar-se como um ato de solidão prolongada, o retiro (ou a reflexão) pode ser simplesmente um estado de espírito momentâneo, acima de tudo, atento.

A reflexão ajuda-nos a perceber a importância de dar espaço e de praticar a escuta activa.
Ensina-nos a olhar para cada troca de experiências como um ato renovado de esperança, assente na certeza de que em cada relação existe sempre uma semente, pronta a despontar e a dar frutos.

O trabalho de casa nunca deve ser descurado.
Não devemos deixar acumular etapas, nem perder as oportunidades que se cruzam no nosso caminho.
Devemos sempre lutar para não ficarmos surdos nem cairmos na tal vida anestesiada.

A solução está sempre no Escutar, 
...mesmo quando aparentemente sozinhos.

A Vida dá-nos aquilo que decidimos precisar.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O tigre que há no Eu

O tigre na jaula não é Tigre.
Não cumpre a sua Natureza, 
Não cumpre o seu propósito.

O teu Tigre, quer-se Livre.
Com propósito.
E acima de tudo, simples.

Mais vale morrer lutando por viver.
Do que viver, lutando por morrer.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Egoísta ou livre?

Tenho-me debatido sobre se o contrário do altruísmo é a corrupção.

Só porque percebi que querer para nós, significa inevitavelmente não deixar para os outros.

Por isso é que a corrupção é mais latente em países onde a fome abunda.


É sempre muito fácil apontar o dedo ao político corrupto mas difícil não desviar o olhar quando somo nós a passar à frente, na fila de trânsito.

Não será a mesma corrupção, fruto da mesma raiz?


Corrupção, num sentido de injustiça.

Numa Injustiça de saber que se outros o fazem impunemente, então porque não nós também?

Na dúvida sobre se o que fazemos fará a diferença.


Onde será que fica a fronteira?

Onde fica a linha da razoabilidade e até que ponto devemos ser intransigentes?


A resposta é: fica no nível em que queremos colocar a nossa fasquia.


Só de nós depende o quão alto queremos voar.

Só nós saberemos até aonde estamos dispostos a lutar para preservar a nossa liberdade.



Dia de morte

De vez em quando a morte dá o ar da sua graça.

Apenas para saber que ela existe.

Apenas para recordar do que é ser, sem ela.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

João Coração

A generosidade morre no dia em que o Homem decide que o que tem consigo, morre consigo.


Cair-nos no colo um objeto que passou de geração em geração ou de amigo em amigo é uma presente precioso.


Porque não é do objeto que se trata.

É daquilo que representa.

Dos sonhos, de pedaços de vidas vividas e da responsabilidade que representa cuidar e tratar do seu legado.


De saber que a vida é tudo, à exceção do próprio objeto.

De saber que o que temos à nossa volta não é nosso, é de todos.


Obrigado João, pela tua lição.

Abraço.



segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Confinamento

A melhor jaula é a invisível.
A melhor chave é reconhecê-la.


Verdes anos

Ao ouvir Carlos Paredes descobri finalmente que era este o mote para a escrita que anda a desafiar-me há alguns dias, no canto do olho.

Os verdes anos. 
Os que nunca envelhecem.

Tenho refletido sobre o que significa poder viver até aos 100 anos.
E na responsabilidade que é de repente poder assistir a 70 anos de vida dos nossos filhos.
Do nascer, do crescer e do amadurecer.
E de ser testemunha de toda esta viagem, em corpo presente.

Antigamente, quando a esperança média de vida era de apenas 30 ou 40 anos, não fazia mal.  
Se a coisa corresse mal, não ficávamos cá para sentir o peso da responsabilidade ou o orgulho de missão cumprida.

Agora não.
Agora, a longevidade traz-nos este presente inesperado.

O de poder assistir in loco ao resultado da nossa ação, para o bem ou para o mal.
O de mostrar-nos que não temos outra opção senão sermos o melhor que podemos ser.

Remeto para uma TED Talk que vi já algum tempo: “Are you being the best parent you can?" - Ric Elias' talk
Eu sei que o meu é.

…e nem de propósito, na playlist começa a tocar inesperadamente aos meus ouvidos, a música de Gustavo Santaolalla que remete-me para escritos de outros tempos (“Hoje chorei por ti" - Dezembro/2008”)

Como é delicioso este puzzle.




sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Olhares

A vergonha encharcou os teus olhos, num prenúncio da mudança.

De esperança, para melhor.



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Pré-movimento

A beleza da quietude está no potencial de movimento.



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Frases Feitas

Não vou falar de citações, chavões ou lugares comuns.

Não quero pensar nos “Porquês”, nem “Para quês”.


Digo apenas que “Frases Feitas” não têm grande utilidade quando Esconder é o que se procura encontrar.

Comprar a frase do vizinho cumpre o nosso propósito apenas quando o dele é o mesmo que o nosso.

Sendo assim, porquê jogar às escondidas quando procuramos iluminar o nosso caminho?


Vale então a pena alimentar as frases que são nossas.

Dar-lhes corpo.

Nutri-las.

Regá-las.


Dia após dia,

Reflexão após reflexão,

Experiência após experiência.


Quando floridas, são frases com poder para iluminar os nossos lagos mais profundos.


Parar para ouvir o que dizem é encostar o ouvido no chão, junto às nossas raizes. 

É deixar que se materializem.

É dar-lhes espaço para um ponto final, sem parágrafo.