Estive esta semana em Madrid, preso durante cerca de 20 minutos dentro de um autocarro, juntamente com cerca de 75 pessoas.
Preso no sentido em que alguém ter-se-á enganado e deu indicações para iniciar o embarque quando o avião não estava ainda preparado.
Foi interessante observar as reacções.
Calores,
Tremores,
Pés a bater no chão,
Punhos cerrados.
Olhares de impaciência e de incompreensão.
O que achei estranho foi observar um sentimento de desconforto perante a minha quietude.
Qual será o problema deste em não se sentir incomodado? - Observei eu no olhar de um outro passageiro.
Como se não bastasse este filme, assim que se abrem as portas, eis que surge a sequela.
Uma multidão precipitando-se para uma entrada congestionada no avião, tal qual a chuva se precipitava sobre os seus ombros.
E a multidão ali ficou, presa entre a escada lotada e o orgulho ferido de voltar de novo para o autocarro.
Seria orgulho ou seria memória recente de desconforto?
Creio que seria memória de desconforto na medida em que só isso me parece justificar a aceitação da chuvada que se lhes abatia no corpo.
Recordo com incompreensão a mãe que insistiu ficar no fim da fila, à chuva com o seu filho, quando a menos de 5 metros estava eu e mais dois ou três passageiros, ao abrigo do autocarro. Eu olhei para ela e ela para mim, mas sem razão aparente, ela insistiu ficar à chuva.
Porquê?
Para quê?
É esta irracionalidade tantas vezes defendida por Dan Ariely que me inquieta.
A mesma irracionalidade que faz com que as pessoas se levantem furiosamente assim que o avião pára, para simplesmente ficarem de pé, tortas ou semi-levantadas à espera que a porta se abra. Não valeria mais a pena ficarem sentadas?
Confesso que já perdi a conta às vezes que chegando a Lisboa, sou o ultimo a sair do avião e portanto o primeiro a sair do autocarro em direcção ao terminal.
O que fazer?
Encolher os ombros?
Suspirar resignado?
As pessoas não têm culpa. São envolvidas numa vida de correria onde a reflexão deixa de fazer parte.
Transformadas em galgos de corrida, vivem num lufa-lufa constante atrás de um coelho que nem sequer é de carne e osso.
Resta-nos a observação como tábua de salvação.
A observação como porta de conhecimento e janela de libertação destes comportamentos irracionais.
O ser humano tem ainda muito para evoluir antes de se considerar racional.
E eu sou um ser humano, tal como tu que me lês neste momento.
Não nos enganemos.
Somos irracionais por natureza e racionais por intenção.
Uma coisa é certa, a vida será bem mais fácil para ambos, se a vivermos com tutano,
e aceitar que somos irracionais é um bom primeiro passo.