Lembrei-me hoje dela e de algumas das suas expressões.
É curioso como a sua voz ecoa dentro do meu cérebro como se ela estivesse aqui ao lado a proferi-las, agora mesmo.
Já assim era antes de ela ter morrido. Não sei explicar o porquê destes ecos. Pedaços de frases que guardei e consigo reproduzir na minha mente como se fosse um gravador áudio.
Nos últimos meses da sua vida não estive particularmente presente.
Estive qb, tal como sempre estive. qb.
Mas sinto carinho. Por aquilo que trocámos. Pelas experiências.
Foi bom ter sabido com antecedência que quando a fui visitar pela ultima vez, seria a última vez.
Simplesmente sabia, apesar de nada indicar que estaria de partida. Por isso levei comigo os meus filhos. Para dizermos adeus:
Estavas bem disposta.
Riste-te mais uma vez daquela tua forma tão característica, tal qual como guardo dentro das minhas memórias. Um riso desafinado por entre dentes cerrados. A tua gargalhada engraçada.
Ao sair, olhei-te nos olhos, apertei as tuas mãos nas minhas e disse-te "Até já".
Nunca saberei se também soubeste que era a última vez. Gostava de ter sabido mas isso são conversas que infelizmente não se têm... em vez disso, adivinham-se..
Foi assim que vivi a sua partida e é assim que me lembro desta pessoa que faz parte do que sou.
No caso do meu avô não foi assim. Eu era bem mais novo e percebi o que tinha acontecido ao escutar ao longe a conversa da minha mãe ao telefone. Foi bem mais doloroso. Mais difícil de descrever.
Por isso, optei por expôr este pequeno pedaço de mim, que na essência não há-de ser muito diferente do que acontece a tantas outras pessoas, apenas para dizer que é bom quando há espaço para a despedida adulta, consciente e sem dramatismos.
É só mais um passo, mais uma porta, que se quer transposta de forma rápida e indolor, tal como no nascimento.
É apenas um "Até já".
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