sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Desejos para 2015


No primeiro dia do ano cruzei-me com duas pessoas na praia, a celebrarem um ritual de lançamento de desejos ao mar (1).
Que coisa linda - A alegria que lhes ia no coração!
A ideia foi lançar ao mar, balões escritos com os seus desejos para 2015.

Fiquei ali a observar o ritual, num misto de respeito e revolta.
Respeito, pela alegria dos outros e que me impediu de interromper a cerimónia.
Revolta, pelo lixo que estavam a lançar ao mar.

Infelizmente já não é a primeira vez que assisto ao resultado destas pequenas cerimónias simbólicas, espalhadas pelas nossas florestas.
Pequenos actos de boas intenções, mas que juntos, deixam para trás um rasto de poluição para alguém mais tarde limpar. Alguém - Sempre o Alguém.

Enquanto assisto a esta comemoração, pensamentos soltos trespassam a minha mente:
     “O que dizer?
      O que fazer?
     
      Dizer o que tem que ser dito.
      Fazer o que tem que ser feito.
     
      Quando é certo o que nos assalta o coração, deve ser sempre feito: Agora, e nunca depois!
      E Especialmente, se estivermos na presença de mais novos, que esperam e observam em nós,   
      um exemplo a seguir.”

Por isso, depois de lançados os balões, e enquanto ainda sorriam e tiravam selfies, fomos falar com elas sobre aquilo de que toda a gente fala e para o qual pouco se faz – o problema da poluição.
“É sempre só mais um balãozinho..Que mal há-de fazer?”

O sorriso delas desvaneceu-se.
A nossa revolta era agora a revolta delas.
Porventura não focada na poluição que tinham feito,  mas na nossa intervenção considerada inoportuna.
“Desmancha-prazeres” terão pensado.
...Afastaram-se, com um sorriso amarelo..

Mesmo que nos próximos dias sintam a revolta de lhes termos estragado um momento especial, tenho a esperança que depois uma semente perdurará e 2016 já será diferente.

     “Dissemos o que tinha que ser dito.
      Fizemos o que tinha que ser feito.”

Depois ficámos ali, a ver os restos da cerimónia.
A observar os balões afastarem-se mar adentro, e a pensar quantas tartarugas já terão morrido aos pés dos desejos do Homem (2).

E acima de tudo revoltados com nós próprios, pelo facto de nada termos feito, enquanto ainda era tempo.
Teria sido o nosso respeito pela alegria dos outros ou a nossa falta de coragem em sair da zona de conforto, que nos fez hesitar no momento certo?

Felizmente acabou por não ser tarde demais.
De calças arregaçadas lá fomos resgatar os balões (3).

No final os balões foram parar à reciclagem,
Quanto aos desejos, o ideal é que se concretizem – Eles não têm a culpa.
A culpa não é da Esperança, é da Incoerência.

Este episódio fez-me reflectir sobre qual é o meu desejo para 2015 e cheguei à conclusão que desejo acima de tudo, a Coerência do Homem.
Estas duas pessoas não eram com certeza mal instruídas ou de má índole.
Podem até ser pessoas sensíveis à importância da Natureza, caso contrário porque estariam elas ali, à beira-mar, lançando os seus votos para 2015?

O problema foi que naquele momento, a sua alegria era mais forte que a sua consciência.
Tal como elas, todos nós temos os nossos momentos de desequilíbrio, de bipolaridade, de desconexão entre o que acreditamos e o que fazemos.
Desta complacência face a comentários inusitados numa qualquer conversas de café.
Todos nós sofremos desta irracionalidade, desta necessidade de aprendizagem.

Assim,
Desejo para 2015, a capacidade de fazer as pontes entre os ideais e as acções.
Desejo a sabedoria para encontrar o equilíbrio entre a convicção e o fundamentalismo.
Desejo a coragem para quebrar com os silêncios.
E acima de tudo a capacidade de ser Grande nos pequenos actos, onde os testes são maiores.
Saber manter o norte, no mar dos cinzentos.

Para que no dia em que tiver que ir, possa levar comigo a conquista da Paz interior. (4)


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