terça-feira, 9 de novembro de 2010

O cavalo alado que fez de burro para poder voar

Ao fazer zapping deparei-me com o espectáculo deprimente do Herman José a lançar umas piadas tristes, supostamente para entreter as grandes massas televisivas.

Quero acreditar que o Herman é uma pessoa inteligente e quero acreditar que o seu público também o é.
No entanto, por razões que para mim são um mistério, a natureza humana faz-nos enveredar por estes caminhos obscuros.

Pessoas inteligentes a comunicarem como se fossem burras.

Talvez porque tenham dito ao Herman que dizer um belo palavrão paga-lhe o ordenado e o humor requintado e inteligente, não.

Mas o público só é estúpido se não lhe derem algo para pensar e refletir.

Encher um povo de horários apertados, informação vazia de conteúdo e ausência de reflexão é estupidificá-lo, ensurdecê-lo e manipulá-lo.

Como é que justificamos o País em que vivemos onde os jornais estão cravejados de notícias de corrupção, onde os supostos prevaricadores vivem impunes em liberdade. Como é isto possível?

Como é possível ter jornais onde nas páginas centrais publicam artigos sobre os exemplos de vida de grandes gestores, gestores esses que páginas antes no mesmo jornal, são dados como arguidos em mais um mega-processo? Até onde vai a estupidez deste público que já nem consegue reagir perante tais paradoxos?

Serão os Meios de Comunicação Social autênticas marionetas ao sabor das vontades e financiamentos? É este o resultado da crise dos jornais, face ao fenónemo da Internet?

Estará a classe jornalística submetida hoje em dia a tal pressão que a leva a comportamentos totalmente desprovidos de princípios onde já não existe o mínimo remorso em destruir as vidas das pessoas?
Simplesmente porque a poluição informativa é tal, que ninguém se importará daí a 6 meses?

Ou estará este País mergulhado numa gigantesca teia de conspirações e intrigas, espertalhões e oportunistas que já nem têm vergonha quando lhes apontam o dedo?

Se assim for, tudo isto preocupa-me muito. Muito por mim mas mais ainda pelos meus filhos.

E preocupa-me porque me faz lembrar a fila da cantina da faculdade em que era tal o fenónemo do penetra a passar à frente que chegámos a um ponto em que quem tinha prícípios e não passava à frente era visto como o totó. Exemplo típico em como o efeito de matilha coloca à prova a educação e os valores do indivíduo.

Preocupo-me porque esta cultura do espertalhão não é de hoje e temos exemplos disso em todo o lado.

Quantas vezes assistimos ao Teatro deprimente daqueles pobres de espírito que fazem de conta que vão à bomba de gasolina e depois voltam novamente à autoestrada.

Não enganam quem está na fila – enganam-se a si próprios.

No meu passado tenho situações em que copiei, em que passei à frente na fila, em que fiz humor estúpido para estúpido ouvir, mas desses momentos não me orgulho.

Orgulho-me sim da vez em que fui ter com a Professora para lhe dizer que a nota positiva lançada na pauta não podia ser minha porque eu nem sequer tinha ido a Exame.

Orgulho-me de ser quem sou quando o Sou.

Arrependo-me quando sei que não Sou quem Sou.

Mas a vida é isto – uma escola.
Errar podemos errar e se isso convidar à reflexão e à aprendizagem. Faz parte e é salutar.

O problema é quando se constata que há muita gente que não quer aprender.

Toda esta constante impunidade, que já não sei se é dos supostos corruptos, ou dos jornais que acusam sem provas faz com que tenha muitas preocupações sobre o futuro deste País e da natureza que move quem por cá vive.

Sem comentários: