segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O carreto primordial

Imagina um sistema de carretos de desmultiplicação.

O primeiro carreto gira a metade da velocidade do segundo.
O segundo, gira a metade da velocidade do terceiro e por aí adiante.
Imagina que o teu primeiro ano de vida representa a tua primeira roda dentada, o teu primeiro carreto.
E por cada ano que passa acrescentas mais uma roda dentada, que gira ao dobro da velocidade da anterior.

Hoje, ao olhares ao espelho, contemplas a velocidade de rotação da tua última roda dentada – a velocidade que é a tua frequência, a tua evolução – o teu estado.

O primeiro carreto gira agora de forma lenta, quase imperceptível - ele é a tua essência – difícil de rodar, difícil de modificar, de tão profundo que está.

Para que agora a tua essência se modifique é necessário que as camadas superiores, nomeadamente a última gire milhares de vezes, tome milhares de passos, suba milhares de degraus, enfrente milhares de desafios, encontre milhares de soluções na esperança de encontrar a Linha Condutora, a Solução, a Mensagem.

Por outro lado, se fizeres a tua viagem de descoberta interior aprendes algo de inestimável.
Aprendes a controlar a velocidade de cada roda dentada, independentemente da sua camada, da sua profundidade.

Ao viajares no teu interior, encontras a forma de chegar a cada carreto, a cada mudança.
E quando chegares à roda essencial e aprenderes a movê-la, descobrirás que afinal de contas ela não é pesada.
É tão leve quanto as outras.

Mas nessa altura constatarás que cada vez que rodas o carreto primordial, milhares de resoluções se repercutem nas camadas superiores, lá em cima, à tona da água do teu lago.

É a altura em que aprendes a ser um lago diferente.

Um lago de água profunda.

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