segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tempo

Pergunta: Como é que passaste estas férias?
Resposta: Passaram-se..Já acabaram ..

Pergunta: Como é que foram as férias?
Resposta: Curtas.

Assalta-me um sentimento de tristeza profunda.
Mais valia falar do tempo ou do futebol.

Então e se as perguntas fossem “Como é que passaste esta vida?” ou “Como é que foi a tua vida?
Teremos as mesmas respostas prováveis?

Por esta razão fiz uma experiencia nestas férias que agora terminam.
No dia em que entrei de férias reflecti sobre os 16 dias de férias que se seguiam.
Pensei no último dia de férias e no que deveria fazer para as aproveitar bem.
Projectei-me no dia 23 de Agosto e pensei naquilo que deveria sentir ao olhar para trás.
E coloquei o relógio em contagem decrescente.

Chegou hoje esse dia – o último dia de férias.
Passados 16 dias conclui que focar-me no meu último dia de férias não fez com que as férias fossem melhores.
Tal como pensar em quantas horas me faltam para morrer (ver http://tenhoumsegredoparati.blogspot.com/2010/07/315576-horas.html ou http://tenhoumsegredoparati.blogspot.com/2008/07/298044-horas.html ) também não faz com que a minha vida tenha mais significado.
Simplesmente tornou mais amargo o momento, quando chega.

Percebi que ao focar-me no fim das férias ou por extrapolação no final de uma vida como método para dar valor ao presente, só vai fazer com que encontre o fim onde defini que ele estivesse.
Mas isso não trouxe conteúdo à viagem que fiz para alcançar o fim.
Parece-me a mim que não é como nos filmes em que se diz a alguém que vai morrer daqui a x dias ou x meses e isso faz com que de repente a vida dessa pessoa passe a ter mais sentido porque larga tudo e passa a fazer o que nunca fez, apenas porque agora não tem tempo.

Parece-me aqui e agora, que o segredo está em olhar para cada um desses dias e perceber o que nele existe. Deixar-se surpreender pelo inesperado e usufruir da elasticidade de pensamento que isso exige.
Tal como a alimentação não pode ser simplesmente o acto de comer.
Há que saborear cada garfada. É isso que dá sentido ao prato.
É essa a forma com que celebramos o facto de termos o que comer, de termos o que viver.

Há 3 anos referi o trabalho de um fotógrafo argentino (Diego Goldberg) se dedica há 34 anos a tirar fotografias tipo-passe à sua família sempre a 17 de Junho, ano após ano (http://zonezero.com/magazine/essays/diegotime/time.html).
Na altura achei interessante, a evolução de uma família, mas foram precisos 3 anos para perceber hoje, porque é que ele faz isso.
Não é para ver as diferenças, é para medir o seu Tempo. Para ter uma noção palpável do valor que a sua vida tem.

Afinal de contas, o relógio mede o Tempo mas com que Tempo é que se mede uma Vida?
À primeira vista diria que se mede com Fotografias ou Memórias, mas se calhar a resposta está nas mãos do homem sem memória que se encontra no fim dos seus dias.
A esse homem gostava de perguntar-lhe o que representa o valor da sua vida.

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