“Maria” (nome fictício) era uma adolescente que numa tarde de Sábado se virou para mim e para 2 amigos meus (na altura tínhamos à volta de 5 anos) e fez questão de nos mostrar um sinal que tinha na coxa, já numa zona considerada um tanto ou quanto privada – principalmente para quem tem 5 anos.
Na altura considerei tão despropositado que por alguma razão ficou gravado na minha mente – não por razões relacionadas com paixonetas platónicas mas simplesmente porque não estava à espera e considerei a situação caricata.
Estou a relatar este episódio porque hoje passei pela “Maria”, senhora respeitável com ar aristocrático que seguia de braço dado com o seu marido.
Teria sido no mínimo constrangedor se a tivesse abordado perguntando pelo tal sinal.
Ela não me reconheceu – eu era miúdo na altura.
Mas a verdade é que olhando para ela hoje, a imagem que me veio à memória foi a desse episódio estranho algures no final dos anos 70.
Fez-me refletir sobre o que são as nossas acções gravadas nas cabeças dos outros.
Fez-me pensar nas situações em que ouço os meus filhos repetir frases minhas com tal convicção como se de verdades absolutas se tratassem e ponderar na responsabilidade que tenho para com eles relativamente aos valores que lhes transmito.
Não creio que seja necessário entrar em paranóia e analisar meticulosamente todas as nossas acções antes de as realizar – não é disso que estou a falar.
O que quero dizer é que o que fazemos ou dizemos fica gravado na memória dos outros, por vezes de forma mais vincada do que na nossa própria memória.
Quantos de nós já se sentiram confrontados com a colossal diferença que existe entre aquilo que sabemos que somos e aquilo que os outros percepcionam de nós.
Isto tudo para dizer o que já foi dito por muitos outros – Somos responsáveis pelos nossos actos – pelas posições que assumimos e por aquilo que defendemos - e é isso que nos define.
Convém também dizer que cabe-nos ter maturidade para aceitar que as pessoas mudam e que neste caso a Maria será concerteza muito mais do que a Maria que há 30 anos atrás me mostrou um sinal na coxa.
Não obstante – há valores que persistem e vertentes da nossa personalidade que, solidificadas em tenra idade nos acompanham até ao fim dos nossos dias.
Para reflectir: Palavras lançadas ao vento invariavelmente retornam, em forma de bofetada ou de carícia – depende.
Carissimo Paulo Rodrigues, fico extremamente contente por verificar que o meu amigo tem uma vertente das letras...Prometo agora que o redescobri que ire ler com calma, ponderação e serenidade os seus textos...Faustino
ResponderEliminarObrigado Faustino.
ResponderEliminarGosto muito de te ter como leitor.
Espero exceder as expectativas.
Um grande abraço.