domingo, 16 de fevereiro de 2014

Galgos de corrida

Estive esta semana em Madrid, preso durante cerca de 20 minutos dentro de um autocarro, juntamente com cerca de 75 pessoas.

Preso no sentido em que alguém ter-se-á enganado e deu indicações para iniciar o embarque quando o avião não estava ainda preparado.


Foi interessante observar as reacções.


Calores, 

Tremores,

Pés a bater no chão, 

Punhos cerrados.

Olhares de impaciência e de incompreensão.


O que achei estranho foi observar um sentimento de desconforto perante a minha quietude.

Qual será o problema deste em não se sentir incomodado? - Observei eu no olhar de um outro passageiro.


Como se não bastasse este filme, assim que se abrem as portas, eis que surge a sequela.


Uma multidão precipitando-se para uma entrada congestionada no avião, tal qual a chuva se precipitava sobre os seus ombros.

E a multidão ali ficou, presa entre a escada lotada e o orgulho ferido de voltar de novo para o autocarro.

Seria orgulho ou seria memória recente de desconforto?


Creio que seria memória de desconforto na medida em que só isso me parece justificar a aceitação da chuvada que se lhes abatia no corpo.


Recordo com incompreensão a mãe que insistiu ficar no fim da fila, à chuva com o seu filho, quando a menos de 5 metros estava eu e mais dois ou três passageiros, ao abrigo do autocarro. Eu olhei para ela e ela para mim, mas sem razão aparente, ela insistiu ficar à chuva. 


Porquê?

Para quê?


É esta irracionalidade tantas vezes defendida por Dan Ariely que me inquieta.

A mesma irracionalidade que faz com que as pessoas se levantem furiosamente assim que o avião pára, para simplesmente ficarem de pé, tortas ou semi-levantadas à espera que a porta se abra. Não valeria mais a pena ficarem sentadas?


Confesso que já perdi a conta às vezes que chegando a Lisboa, sou o ultimo a sair do avião e portanto o primeiro a sair do autocarro em direcção ao terminal.


O que fazer?

Encolher os ombros?

Suspirar resignado?


As pessoas não têm culpa. São envolvidas numa vida de correria onde a reflexão deixa de fazer parte. 

Transformadas em galgos de corrida, vivem num lufa-lufa constante atrás de um coelho que nem sequer é de carne e osso.


Resta-nos a observação como tábua de salvação.

A observação como porta de conhecimento e janela de libertação destes comportamentos irracionais.


O ser humano tem ainda muito para evoluir antes de se considerar racional. 

E eu sou um ser humano, tal como tu que me lês neste momento. 

Não nos enganemos. 


Somos irracionais por natureza e racionais por intenção.


Uma coisa é certa, a vida será bem mais fácil para ambos, se a vivermos com tutano, 

e aceitar que somos irracionais é um bom primeiro passo.



sábado, 15 de fevereiro de 2014

O silêncio do olhar


Sempre considerei o silêncio como a melhor forma de acordar.


O silêncio atento, curioso e inquieto.

O silêncio conselheiro, amigo e Pai.

O silêncio que nos ensina a gritar.


O silêncio que procura respostas

Respostas essas que invariavelmente surgem nos olhares que só se descobrem na paz do silêncio.